11 de junho de 2013
Uma escola em que as disciplinas não fazem sentido, com professores que faltam muito e um projeto pedagógico que não contempla o uso da tecnologia. Essa é a visão que os jovens de 15 a 19 anos, oriundos de áreas pobres, têm do ensino médio, indica pesquisa inédita da Fundação Victor Civita (FVC).
A questão da tecnologia é um dos principais achados. Mais de 80% dos jovens pobres declararam utilizar a internet para estudar. Enquanto isso, em menos de 50% das escolas eles têm acesso ao recurso. O dado, somado ao despreparo dos professores com o suporte, faz com que haja um descontentamento dos jovens em permanecer num ambiente classificado por eles como “atrasado”.
O ensino médio é considerado a fase com os maiores desafios. Cerca de 1,7 milhão de jovens entre 15 e 17 anos já abandonaram os bancos escolares. Para diretora da FVC, Angela Danemann, a pesquisa explica o alto índice de evasão dessa etapa. “O aluno vai embora porque não vê sentido em estar ali. A escola não responde à sua aspiração, não usa os suportes que ele tem familiaridade.”
Dentre as características do professor categorizado como “ruim” aparece o fato de ele utilizar apenas a apostila e fazer os alunos copiarem. “O relacionamento do professor com a tecnologia é ruim. Isso se traduz na dificuldade de incorporar ao cotidiano escolar o uso de novas tecnologias”, explica o coordenador da pesquisa, Haroldo da Gama Torres, do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento.
A fala de um dos entrevistados, de 17 anos, ilustra bem a situação: “A professora de artes queria passar um desenho, um quadro, mas não sabia como. Eu disse que ela podia postar no Facebook para todo mundo baixar e fazer a lição. Ela não sabia o que era Facebook”.
E eu com isso? O estudo aponta outro problema: a falta de conexão do conteúdo com a realidade do estudante. Para os entrevistados, só português e matemática têm utilidade, e é significativa a proporção daqueles que declaram que a principal razão para frequentarem a escola é conseguir um diploma: 20%.
“Os jovens têm interesse no trabalhar. Em São Paulo, 16 anos é a idade com que acham que se deve começar a trabalhar. Será que o ensino médio, do jeito em que está, interessa a esse público? A formação precisa ser diversificada, com modelos diferentes para projetos de vida distintos”, diz Torres.
Antes mesmo do abandono, o baixo apelo da escola tem outro reflexo. Não raro a “zoeira” possui, em muitas situações, posição primordial. Segundo o estudo, 77% dizem que a zoeira e a bagunça são comuns. A estudante Kassia Gomes Monteiro, de 16 anos, reclama. “Quem faz a escola são os alunos, mas também não depende só da gente”, disse ela, aluna da Escola Estadual Luiz Gonzaga Righini, na zona norte de São Paulo. Leandro Alves, de 16 anos, diz que o principal objetivo dele ir à escola é para jogar futebol. “Nem entro em todas as aulas, é muito chato”, diz ele,
fonte: www.estadao.com.br
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